Poesia de Cordel

sábado, 21 de maio de 2011

Oliveira de Panelas



Oliveira de Panelas: Natural de Panelas-Pe- nasceu a 24 de maio de 1946. Aos 9 anos de idade já começou fazer poesia. Na década de 50/60 percorreu o Estado de Pernambuco e Alagoas cantando repente.
Teve que trabalhar de auxiliar de pedreiro, mas nunca abandonou a viola. Trabalhou na difusora de Garanhuns no período 62 a 70, como titular do programa “Violas de Repentes,”no qual cantava em parceria com Manoel Bezerra Diniz.
Morou em São Paulo durante alguns anos, no bairro do Brás, fazendo repentes no “Recanto dos Poetas.”Foi sócio-fundador da Associação de Repentistas, Poetas e Folcloristas do Brasil, também em São Paulo. Em 1972 ganha seu primeiro lugar num Festival de Violeiros em Celso Garcia-SP.Representou o Estado de Pernambuco em São Paulo no 1o. Congresso de Repentistas Nordestinos.
Sua fama foi crescendo mediante inúmeras apresentações e aí foi convidado pela Rede Globo em 1974, para se apresentar no programa “Fantástico”. Aí fez parceria com José Francisco de Souza.
Seu primeiro disco foi gravado na Coletânea de Repentistas, com repentes variados. Seus temas são bem atuais; Oliveira de Panelas é um cantador moderno. Até pela imprensa internacional da França, Portugal, Itália, Estados Unidos ele é enfocado. Inclusive participou do Salão do Livro em Paris.
Já cantou para o Papa João Paulo II e para o nosso consagrado cantor Roberto Carlos. Gravou cerca de 15 discos e CD. Publicou quase uma dezena de livros de poesia inúmeros cordéis e folhas soltas.
Foi presidente da Associação de Poetas Repentistas do Brasil durante anos e promoveu mais de uma dezena de Encontro Nacional de Poetas Cantadores do Brasil. Possui Certificado como violeiro, outorgado pela Ordem dos Músicos do Brasil.
Oliveira de Panelas encontra-se na Paraíba há mais de duas décadas. Já foi titular de programas de rádio, a exemplo na Rádio Tabajaras, com “O Nordeste Canta”, em parceria com o seu parceiro de vinte anos, o então também grande repentista Otacílio Batista.O poeta utiliza em seus versos o senso humorístico, a métrica tradicional, a sextilha. Entre tantas de suas poesias interessantes, citamos “Frei Damião de Bozzano no coração do povo,”“O Encontro de Tancredo com Tiradentes no Céu,” “Debate de Lampião com São Pedro” e outros.
Entre alguns dos seus livros, citamos: “Poemas Alternativos”, em parceria com o poeta José de Souza;”“O Comandante do Planeta Médio”; Poesia Liberdade”; “Poemas Iluminados”, “Dois Poetas do Povo e da Viola” em parceria com o poeta Otacílio Batista; “José Lins do Rego em Versos de Cordel”, lançado no Fenart 2001.
Não se pode numa ligeira biografia, dizer da grandeza do poeta Oliveira de Panelas; seu valor transcende. É um poeta que escreve seus versos, é cantador, repentista, que já ecoou ao som de sua viola, de norte ao sul deste imenso país.


Nunca Transforme em Vermelho
O Sinal Verde da Vida

 Oliveira de Panelas*

É louvável quem respeita
Os sinais de advertência
Se a esquerda é preferência
Nunca passe pra direita.
A estrada não foi feita
Pra ser pista de corrida
Ao cruzar a Avenida
Mire-se bem neste espelho
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida.

Repare bem o motor,
Viaje com confiança,
O cinto de segurança
Coloque pra onde for,
Examine o extintor,
Se a carga está vencida,
Não se torne um homicida
Por causa deste aparelho
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida

Não dirija embriagado,
Evite a fatalidade,
Não corra em velocidade,
Nunca viaje drogado,
Se caso estiver cansado,
Tente achar uma dormida,
Evite numa batida
Ferir mão, braço e joelho.
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida.

No congestionamento,
Nunca perca a esportiva,
Dirija na defensiva,
Fique atento ao movimento,
Cuidado como cruzamento
Olhe a faixa proibida,
É grande quem não liquida
Sequer a vida de um coelho
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida.

Prossiga a viagem em paz,
Seja feliz no retorno,
Jamais tente com suborno
Comprar os policiais,
Pois um suborno não faz
A vida restituída
Depois da vida perdida
É tarde, não há conselho.
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Zé Limeira o Poeta do Absurdo



Zé Limeira (Teixeira, 18861954) foi o cordelista/repentista mais mitológico do Brasil. Era conhecido como Poeta do Absurdo. Nasceu no sitio Tauá, em Teixeira, cidade da Paraíba que foi o principal reduto de repentistas no século XIX.
Os temas que abordava em suas poesias e repentes eram variados e chegavam, muitas vezes, ao delírio. Pornografia era um tema recorrente, mas Zé Limeira ficou conhecido como "Poeta do Absurdo" por suas distorções históricas, poesias recheadas de surrealismo e nonsense, e pelos neologismos esdrúxulos que criava.
Vestia-se de forma berrante, com enormes óculos escuros e anéis em todos os dedos, e saía pelos caminhos de sua vida, cantando e versando.

“Eu me chamo Zé Limeira
Da Paraíba falada,
Cantando nas Escritura,
Saudando o pai da coalhada,
A lua branca alumia,
Jesus, José e Maria,
Três anjos na farinhada.”

O repente, a cantoria e a literatura de cordel são tradições que remontam da Idade Média e que teria sido trazida ao Brasil pelos portugueses lá pelo século XIX, se popularizando no Nordeste, mas especificamente nos Estados da Paraíba, Pernambuco e Ceará. Muitos cantadores se tornaram famosos, mas um deles se destacou por seu comportamento esdrúxulo, um tropicalista pré-cambriano entre os tradicionais cantadores. Eis um pouco da história de Zé Limeira, o poeta do absurdo.
O senhor dos anéis do sertão
Quem viu Zé Limeira ao vivo e a cores testemunhou uma figura ímpar em comportamento e aparência. Usava diversos anéis nos dedos, uma bengala de aroeira, óculos escuros estilo “ray-ban” e um lenço colorido em volta do pescoço. Carregava sempre seu violão adornado com dezenas de fitas multicores, costumava beber “zinebra”, que carregava em seu matulão. Percorria as estradas do sertão a pé, morria de medo de trem – o “embuá de ferro” – e o único veículo no qual subia era carro de boi, que era “abençoado por Deus”. Era de uma excentricidade digna de um astro de rock.
Todavia, o que realmente destacava Zé Limeira dos demais cantadores que freqüentavam feiras e festas era, além de uma voz poderosa, o seu estilo surreal e anárquico, que davam nó em qualquer violeiro que pelejasse com ele, e divertia os presentes. Em suas rimas misturava personagens e cenários bíblicos e históricos com os elementos do sertão, inventando palavras e termos. Natural do município de Teixeira, no sertão da Paraíba, era um verdadeiro pop-star do Nordeste, popular entre os humildes e poderosos, que se divertiam nas pelejas entre ele e o infeliz que o encarasse, já que normalmente o pobre ficava eclipsado pela língua felina e os improvisos malucos do cantador. Ele afirmava que era necessário o fôlego de sete gatos para acompanhá-lo, tanto na cantoria quanto no caminhar – consta que ele caminhava sessenta quilômetros por dia, embreado na caatinga.

O biógrafo do poeta

Orlando Tejo, poeta, advogado e jornalista, natural de Campina Grande, testemunhou ainda jovem muitos dos desafios do qual Limeira participou. Tejo chegou a registrar algumas dessas pelejas em fita, porém todo e qualquer registro feito por ele ou por seus colegas acabou se perdendo, e atualmente não existem gravações da voz de Zé Limeira. Mesmo assim, ele memorizou muito do que ouviu e transcreveu para o papel, garantindo a imortalidade do bardo sertanejo. Seu livro “Zé Limeira – Poeta do Absurdo” é editado desde o início dos anos oitenta.

Algumas estrofes

No livro de Orlando Tejo, ele relata como conheceu Zé Limeira e alguns causos que testemunhou ou que colheu de amigos que testemunharam, inclusive com algumas das cantorias.  Consta, por exemplo, que o governador de Pernambuco, Agamenon Magalhães, promovera no palácio do governo um encontro de repentistas, entre eles os famosos irmãos Batista. Eis que chega ao meio da festa Zé Limeira, que é bem recebido por todos. Ficou famosa a estrofe dedicada à primeira dama, após Otacílio Batista oferecer um brinde a ela em versos:

“Eu cantando pra Dona Antonieta
A muié do Doutor Agamenon,
Fico como o Reis Magro do Sion,
Me coçando na mesma tabuleta.
Eu aqui vou rasgando a caderneta
De Otacílio Batista Patriota…
Doutor, como eu não tenho um brinde em nota,
Que possa oferecer à sua esposa.
Dou-lhe um quilo de merda de raposa
Numa casca de cana piojota.”

Os vultos históricos perambulavam pelo sertão imaginário de Limeira, despidos de qualquer honraria ou reverencia.
O velho Tomé de Souza
Governador da Bahia
Casou-se no mesmo dia
Passou a pica na esposa
Ele fez que nem raposa
Comeu na frente e atrás
E passou pelo caís
Onde o navio trafega
Comeu o padre Nobrega
E os tempos não voltam mais

Napoleão era um
Bom capitão de navio
Sofria de tosse braba
No tempo que era sadio,
Foi poeta e demagogo
Numa coivara de fogo
Morreu tremendo de frio.

Pedro Álvares Cabral
inventor do telefone
começou tocar trombone
na Volta de Zé Leal
Mas como tocava mal
arranjou dois instrumento
daí chegou um sargento
querendo enrabar os três
Quem tem razão é o freguês
diz o Novo Testamento”

Frei Henrique de Coimbra
Sacerdote sem preguiça
Rezou a primeira missa
Perto de uma cacimba
Um índio passou-lhe a pimba
Ele não quis aceitar
E hoje vive a chorar
Embaixo de um pé de jureme
O bom pescador não teme
As profundezas do mar

Getúlio Vargas morreu
Foi com saudade da esposa,
Lampião inda tá vivo
Morando perto de Sousa
Por detrás do sete-estrelo
tem um casal de raposa.

No tempo do Padre Eterno
Getúlio já governava
Plantava feijão e fava
Quando tinha bom inverno
Naquele tempo moderno
São João viajou pra cá,
Dom Pedro correu pra Iá,
Escanchado num tratô…
Canta, canta, cantadô
Que seu destino é cantá.

Já Jesus Cristo, a Virgem Maria e outros do livro sagrado também foram alvos do iconoclasta poeta. Segue alguns exemplos

“Saíram lá de Belém
Cristo e Maria José,
Passaram por Nazaré,
Foram Betelelém,
Chupô cana num engem,
Pediu arrancho num brejo,
De noite armuçou um tejo
Lá perto de Piancó,
Na sexta-feira malhô
Foi que Judas vendeu Jésus!”

“Jesus saiu de Belém,
Viajando pra o Egito,
No seu jumento bonito,
Com uma carga de xerém,
Mais tarde pegou um trem,
Nossa Senhora castiça,
De noite Ele rezou Missa
Na casa dum fogueteiro,
Gritava um pai-de-chiqueiro:
Viva o Chefe de Puliça!”

“Quando Jesus veio ao mundo
Foi só pra fazê justiça
Com treze ano de idade
Discutiu com a doutoriça,
Com trinta ano depois,
Sentou praça na puliça.”


“Jesus nasceu em Belém
conseguiu sair dali
passou por Tamataí
por Guarabira também
Nessa viagem de trem
foi parar num entrocamento
Não encontrando aposento
dormiu na casa de um cabo
jantou cuscus com quiabo
diz o Novo Testamento”

“São Pedro, na sacristia,
Batizou Agamenon,
Jesus entrou em Belém
Proibindo o califom,
Montado na sua idéia,
Nas ruas da Galiléia
Tocou viola e pistom”.

 
A Maldição de Zé Limeira

O Romance da Pavoa Devoradora era uma narrativa pesada sobre as desgraças trazidas pela ave mítica do título, que com seu bico de 36 léguas trousse e traria desgraça ao mundo. Não há registro escrito ou gravado de tal poema, cuja declamação alcançava hora e meia, e deixaria “O Corvo” de Edgar Allan Poe, no chinelo. Havia um tabu para cantar tanta desgraceira: nunca antes de meia-noite, e sempre de olhos fechados. Quem era mais supersticioso ou impressionável acabava abandonando o recinto.  Reza a lenda que, após muita insistência, Zé Limeira quebrara ambos os tabus em uma noite de cantoria na sua própria casa, em Teixeira no ano de 1954, e que pouco depois morre.
Falando em tabus e maldições, Existe uma “maldição” em torno do livro de Orlando Tejo, no qual quem adquire o livro acaba não ficando com ele muito tempo. Ou você empresta e não devolvem ou simplesmente ele “some” de sua estante. Até o autor já foi vítima diversas vezes dessa “maldição”. Eu mesmo já perdi meu exemplar desse livro, que estava nas mãos de meu irmão (que por sua vez o perdeu a um amigo).

Zé Limeira nas Artes

Há quem diga que Zé Limeira é apenas uma lenda inventada por cantadores e poetas, e que tal figura nunca existiu. Como não existem fotos e nem registros gravados, o ceticismo de muitos é forte, e acusam o pobre do Orlando Tejo de ter criado essa figura tão inverossímil.
Mesmo lenda ou fato, Zé Limeira se tornou um ícone da nordestinidade, e outros cantadores reverenciam o mesmo e o transformam em personagem de literatura de cordel, inclusive colocando-o em desafio com Zé Ramalho. Aliás, Zé Ramalho bebeu e bebe na fonte da poesia sertaneja desde os seus primeiros discos, e em Força Verde há uma faixa intitulada Visões de Zé Limeira sobre o final do século XX. O Quinteto Violado lançou em 1979 o disco Pilogamia do Baião, cujo título é inspirado em um dos poemas de Zé Limeira. Mais recentemente, o grupo pernambucano Mestre Ambrósio grava Se Zé Limeira Cantasse Maracatu no disco Fuá na Casa de Cabral. A banda de forró paraibana As Bastianas já executou em shows a música Zé Limeira.com. Mesmo com a cultura popular nordestina em declínio, a imagem

Mais Zé Limeira

Praticamente a única fonte de informação sobre Zé Limeira é o livro de Orlando Tejo, que não é das coisas mais fáceis de encontrar. Na página do autor há dois capítulos em PDF para download. Inclusive um desses capítulos é um dos melhores do livro, no qual Orlando Tejo critica a chamada poesia moderna e os movimentos de vanguarda, usando de muito bom humor e comparando com a poesia de Limeira. Mas caso consiga o livro, muito cuidado com a maldição…

Rogaciano Leite

 Rogaciano Leite,nasceu em Itapetim no sítio Cacimba Nova em 1 de Julho de 1920 e faleceu no Rio de Janeiro em 7 de Outubro de 1969,Filho dos agricultores Manoel Francisco Bezerra e de Maria Rita Serqueira Leite, iniciou a carreira de poeta-violeiro aos 15 anos de idade, quando desafiou, na cidade paraibana de Patos, o cantador Amaro Bernadino.
Em seguida, Rogaciano Leite foi para o Rio Grande do Norte, onde conheceu e iniciou amizade com o renomado poeta recifence Manoel Bandeira. Aos 23 anos de idade mudou-se para Caruaru, no agreste pernambucano, onde apresentou um programa diário de rádio. De Caruaru, seguiu para Fortaleza, onde tornou-se bancário .
Entre 1950 e 1955, Rogaciano residiu nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. No Rio casou-se com Maria José Ramos Cavalcante, com quem teve os filhos Rogaciano Filho, Anita Garibaldi, Roberto Lincoln, Helena Roraima, Rosana Cristina e Ricardo Wagner.
Em 1968 deixou o Brasil para uma temporada na França e outros países da Europa . Na Rússia deixou gravado, em monumento na Praça de Moscou, o poema Os Trabalhadores.
Alguns dos poemas mais conhecidos de Rogaciano Leite são Acorda Castro Alves, Dois de Dezembro, Poemas escolhidos, Carne e Alma, Os Trabalhadores e "Eulália. Rogaciano faleceu, de enfarte miocárdio , no Hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro. O corpo do poeta está sepultado no cemitério São João Batista, em Fortaleza, Ceará.
Rogaciano Leite foi, ainda, jornalista e era formado em Direito e Letras.
Em dezembro de 2007 foi lançado em pernambuco na cidade de Itapetim pela jornalista Tacianna Lopes o documentário "Reminiscência em Prosa e Versos",o vídeo conta um pouco da história de Rogaciano Leite. Um trabalho inédito, um curta-metragem de aproximadamente 23 minutos e que conta com a particpação de familiares, admiradores e amigos contemporãneos do Poeta,entre eles está o escritor Ariano Suassuna, que junto com Rogaciano na década de 40 foi responsável pela realização do I Congresso de Cantadores Repentistas do Brasil.
Soneto de Rogaciano Leite.
Sorrir e Cantar
Quando falas porque vivo sorrindo
Falas também por viver cantando
Se a vida é bela e se este mundo é lindo
Não há razão para eu viver chorando

Cantar é sempre o que a fazer eu ando
Sorrir é sempre meu prazer infíndo
Se canto e rio,é porque vivo amando
Se amo e canto,é por que vivo rindo.

Se o pranto morre quando nasce o canto
Eu canto e rio pra matar o pranto
E gosto muito de quem canta e rí

Logo bem vês por estes dotes meus
Que quando canto estou pensando em Deus
E quando rio estou pensando em tí.
Rogaciano Leite

Inacio da Catingueira o Escravo Poeta.



Sem sobrenome por ser filho de pai desconhecido, o maior fenômeno da cultura popular de Catingueira, nasceu aos 31 de julho, dia em que a igreja homenageia o Santo Inácio de Loiola, do ano de 1845. Sua Mãe, uma negra africana de nome Catarina, só foi batizada em 1902, pelo Bispo Dom Adauto, época em que já contava 118 anos de idade. Seu genitor, segundo alguns indicativos, era um homem branco, residente na região. Por esse motivo, há quem discorde das informações de que Inácio da Catingueira era puramente negro e sim mestiço, de cor escura mas de pele fina, cabelos corridos, conservando um pequeno cavanhaque e um bigodinho acanhado. Afirmam, que era simpático, de estatura satisfatória, olhos pretos e dispondo de uma voz forte e agradável. Seu instrumento era um pandeiro, que até hoje prevalece nas emboladas de coco, enfeitado com um laço de fita, guizos de prata de dois mil réis e tampo de couro cru, retinindo a cadência de seus versos quentes e empolgantes.
O nome em destaque nasceu no Sítio Marrecas, como escravo de Manoel Luiz de Abreu mas, também, foi cativo por herança de Francisco Fidié Rodrigues de Sousa, genro do mesmo. No inventário, Inácio da Catingueira, constou como bem, em valor de valor de 1.200$000 (um conto e duzentos mil réis). Tal partilha foi procedida na residência do senhor Nicolau Lopes da Silva, filho da viúva Ana Joaquina da Silva, em 13 de fevereiro de 1875, oportunidade em que Inácio da Catingueira já contava 30 anos de idade e era considerado um imenso bem humano. No dia 22 de março, em seguida à partilha, o inventário foi homologado pelo Juiz, Dr. João Tavares de Melo Cavalcante Filho. O Histórico documento encerrou-se com distribuição das custas aos serventuários da justiça, em 21 de abril do mesmo ano.

Inácio da Catingueira, que analfabeto, teve como grande trunfo para conseguir a liberdade, o talento poético, com o qual sensibilizou o seu senhor. Não chegava a ser impedido de se ausentar da morada para qualquer viagem, por mais que demorasse e, ainda por cima, era dono de tudo o que conseguia como humildade artista.

O acontecimento que o tornou conhecido é tido também, como a maior peleja entre dois cantores já ocorrida na região. O desafiante seria outro poeta, não escravo e já afamado, conhecido por Romano da Mãe D água e tal embate se daria na cidade de Patos. Contudo, a primeira vez que se deparou, com aquele que seria um parceiro por muito tempo, registrou-se na casa de Firmino Aires, oportunidade em que se fazia acompanhar de um grupo proveniente de sua terra. O objetivo era apenas conhecer, o homem tido como grande mestre. Levando para a presença do Rei dos Cantores, empunhando o seu pandeiro, o negro saiu -se com essa:

Senhores que aqui estão
Me tirem de um engano
Me apontem com o dedo
Quem é Francisco Romano
Pois eu ando no seu piso
Já não sei a quantos anos
Surpreendido,

Romano devolveu-lhe o seguinte verso:

Senhor me diga o seu nome
Que eu quero ser sabedor
Se é solteiro ou casado
Aonde é morador
Se acaso for cativo,
diga quem é seu senhor

Sem qualquer rodeio Inácio finalizou:

Seu Romano eu sou cativo
Do senhor Mane Luiz
Sou solteiro, de palavra
Que só sustenta o que diz
Inácio da Catingueira
Sou um escravo feliz.

O célebre desafio entre os dois cantadores e que sagrou Inácio o campeão inconteste, durou oito dias, garantindo público, em Praça Pública de Patos, nas redondezas da tradicional feira, proximidades da Igreja da Conceição. A partir daí, por onde passava a dupla arregimentava verdadeiras multidões.

Inácio da Catingueira veio a falecer acometido de Pneumonia, em conseqüência de trabalhos no campo, época da queima de brocas, com pouco de trinta e três anos de idade. Seu corpo não foi sepultado na Fazenda, como de praxe faziam com os escravos. Repousa em uma Praça, no centro da cidade, a qual leva o seu nome, tendo, inclusive, uma estátua em sua homenagem. Em vida já manifestava o temor da certeza de que um dia deixaria a sua terra querida, a dedicou quase todos os temas dos seus improvisos, antecipando o espírito saudoso, em versos como este:

Tenho pena de deixar
A Serra da Catingueira
A Fazenda Bela Vista
A maior dessa ribeira
O Riacho do Poção,
As quebradas do Teixeira.

São lições como esta que conseguem ampliar, cada vez mais, a genialidade de Catingueira, mostrando que é a humildade a maior das virtudes. Passaram-se quase 123 anos da morte do fenômeno e a poeira do tempo não conseguiu sequer embaçar, na memória do povo, a lembrança de Inácio, sempre atrelada ao nome de sua terra. Foi um grande exemplo que resistiu a todas as intempéries para mostrar que a grandiosidade não está contida no que se tem, mas naquilo que se consegue como conquista do esforço próprio. Pitadas de sofrimento, determinação e coragem, como ingredientes da maior culinária humana.

Otacílio Batista Orgulho da poesia Pernambucana.



Poeta repentista, o mais novo dos três famosos irmãos Batista (além dele, Louro e Dimas), Otacílio Batista Patriota nasceu a 26 de setembro de 1923, na Vila Umburanas, São José do Egito, sertão pernambucano do Alto Pajeú.
Filho de Raimundo Joaquim Patriota e Severina Guedes Patriota, ambos paraibanos, Otacílio participou pela primeira vez de uma cantoria em 1940, durante uma Festa de Reis em sua cidade natal. Daquele dia em diante, nunca mais abandonaria a vida de poeta popular.
Em mais de meio século de repentes, participou de cantorias com celebridades como o Cego Aderaldo e outros. Conquistou vários festivais de cantadores realizados nos estado de Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo.
Entre os folhetos de Cordel que Otacílio publicou estão os seguintes: A Morte do Ex-Governador Dix-Sept Rosado; Versos a Câmara Cascudo; Peleja de Zé Limeira com Zé Mandioca; Peleja do Imperador Pedro II com o Rei Pelé. Todos consagrados junto aos leitores nordestinos.
Otacílio Batista publicou, ainda, vários livros. Entre os quais, destacam-se: Poemas que o Povo Pede; Rir Até Cair de Costas; Poema e Canções; e Antologia Ilustrada dos Cantadores, este último com F. Linhares. Versos de Otacílio foram musicados pelo compositor Zé Ramalho, dando origem à canção “Mulher Nova Bonita e Carinhosa”, gravada inicialmente pela cantora Amelinha e depois pelo próprio Zé Ramalho. A canção foi tema de uma filme brasileiro sobre Lampião, o Rei do Cangaço.
Otacílio Batista Patriota morreu a 05 de agosto de 2003, na cidade de João Pessoa, Paraíba.
MULHER NOVA, BONITA E CARINHOSA

Otacílio Batista

Numa luta de gregos e troianos
Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história de um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Páris, o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor


Alexandre figura desumana
Fundador da famosa Alexandria
Conquistava na Grécia e destruía
Quase toda a população Tebana
A beleza atrativa de Roxana
Dominava o maior conquistador
E depois de vencê-la, o vencedor
Entregou-se à pagã mais que formosa
Mulher nova bonita e carinhosa
Faz um homem gemer sem sentir dor


A mulher tem na face dois brilhantes
Condutores fiéis do seu destino
Quem não ama o sorriso feminino
Desconhece a poesia de Cervantes
A bravura dos grandes navegantes
Enfrentando a procela em seu furor
Se não fosse a mulher mimosa flor
A história seria mentirosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor


Virgulino Ferreira, o Lampião
Bandoleiro das selvas nordestinas
Sem temer a perigo nem ruínas
Foi o rei do cangaço no sertão
Mas um dia sentiu no coração
O feitiço atrativo do amor
A mulata da terra do condor
Dominava uma fera perigosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor

Versos a meus filhos

Rafa, o seu sorriso
Transforma o meu viver
Minha vida tem sentido
Eu deixo transparecer
O amor e a amizade
Que eu sinto por você
2
Julie, é uma flor
Que brotou no meu jardim
È minha filha amada
Guardada dentro de mim
Estarei jutinho dela
Do começo até o fim.
3
Saulinho o meu Amor
Por você é imortal
Não viverei sem você
Isso pra mim é fatal
Conte sempre com seu Pai
Pois você é o meu Sal.
4
Caína, minha neném
É amor é alegria
É o Sol do meu caminho
Clareando o meu dia
Não enxergo minha vida
Sem a sua companhia.

Versos  a Minha Mãe
1
Mãe deixou muita saudade
E levou o seu amor
Demonstrou o seu valor
Na sua simplicidade
Falava sempre a verdade
Com toda sua emoção
Doava de coração
Tudo que Jesus lhe deu
A BELA FLOR DE ALGODÃO
ENTRE O CARNAUBAL SE ERGUEU
SE ESPALHOU, SE FEZ ROSINA
NO SOLO QUE LHE ACOLHEU.
2
Apesar de tão sofrida
Era pessoa serena
Na sua vida terrena
Era forte, decidida.
Atuante, prevenida.
E tinha muita ação
Do grande profeta João
Falava tudo que leu
A BELA FLOR DE ALGODÃO
ENTRE O CARNAUBAL SE ERGUEU
SE ESPALHOU, SE FEZ ROSINA
NO SOLO QUE LHE ACOLHEU.
3
Veio então o casamento
Na sua plena juventude
Ela demonstrou virtude
Na voz do seu juramento
Tinha pois conhecimento
Da sua grande paixão
Com toda convicção
Que isso tudo lhe valeu
A BELA FLOR DE ALGODÃO
ENTRE O CARNAUBAL SE ERGUEU
SE ESPALHOU, SE FEZ ROSINA
NO SOLO QUE LHE ACOLHEU.
4
Onze filhos bem criados
Por uma mãe dedicada
Cuidava da meninada
Éramos mesmo bem cuidados
Fomos todos muito amados
No seu grande CORAÇÃO
E não havia distinção
Nos filhos que Deus lhe deu
A BELA FLOR DE ALGODÃO
ENTRE O CARNAUBAL SE ERGUEU
SE ESPALHOU, SE FEZ ROSINA
NO SOLO QUE LHE ACOLHEU.
5
Ao lado do seu marido
Mulher, também provedora
Como jovem professora
Seu sonho foi perseguido
Pai era reconhecido
Das Capitais ao Sertão
Ganhava pouco tostão
Pois para cantar nasceu
A BELA FLOR DE ALGODÃO
ENTRE O CARNAUBAL SE ERGUEU
SE ESPALHOU, SE FEZ ROSINA
NO SOLO QUE LHE ACOLHEU.
6
Hoje guardo na lembrança
O seu rosto de ternura
Além da sua alma pura
Parecendo uma criança
Eu sentia confiança
Ao pegar em sua mão
E não tinha aflição
Quando estava ao lado seu
A BELA FLOR DE ALGODÃO
ENTRE O CARNAUBAL SE ERGUEU
SE ESPALHOU, SE FEZ ROSINA
NO SOLO QUE LHE ACOLHEU.

O genial Zé Catota


José Lopes Neto nasceu no Riachão, município de São José do Egito, em 05 de agosto de 1917.
Filho de José Lopes Filho e de Euflasina Maria da Conceição, o popular Zé Catota fez do improviso sua marca registrada, o que lhe rendeu o reconhecimento da imprensa pernambucana, aparição no Fantástico e a gravação de especiais para televisões da França e da Holanda.
Seu domínio com a poesia e a viola rendeu-lhe o título de Metralhadora do Repente.
Há pouco tempo, em sua casa modesta na cidade de São José, o poeta foi perguntado, por um eventual visitante, quais dos cantadores antigos ainda restavam pra contar a historia da poesia, o mestre respondeu com um improviso:

O genial Zé Catota, poeta quase centenário, mora em São José do Egito, praticamente esquecido, sem o devido reconhecimento a sua grandeza poética. Como todo grande poeta que atinge uma idade avançada, para quem viveu a boemia, o mestre só se comunica através de versos improvisados. Não fala mais, só improvisa. A pouco tempo, em sua casa modesta num bairro periférico de São José, foi perguntado, por um eventual visitante, quais dos cantadores antigos ainda restavam pra contar a historia da poesia, o mestre desfila sua magoa em mais um improviso impagável;

Dos cantadores antigos
Tem eu e Pedro Amorim
Eu aqui em São José
Pedro lá em Itapetim
Por lá ninguém lembra dele
Aqui esquecem de mim.

Como diria Pinto do Monteiro, “A cascavel do repente”, “Poeta é aquele que tira de onde não tem e bota aonde não cabe”.

Até nas flores se vê
A diferença da sorte
Umas enfeitam a vida
Outras enfeitam a morte".



Zé Catotaa sextilha em que o mestre pega na deixa um verso do cantador Expedito Sobrinho:

"Em breve irei açoitar
Os vates do pajeú".


Zé Catota disse:

Saia de Caruaru,
Passe pelo Moxotó,
Vá açoitar os poetas
De Patos a Piancó,
Na volta, apanhe dos três:
Louro, Zé Catota e Jó.


cantando com Pedro Amorim, quando este improvisou a sextilha:

Vivo muito bem na vida
E tu vives atrasado.
Possuo fazenda, açude
E cana do outro lado.
Tu só tens um Jeep velho,
Além de velho, quebrado.


Zé Catota disse:

Chamar fazenda sem gado,
Eu acho melhor que deixe;
A sua cana cortada
Talvez não dê nem um feixe.
Esse açude de que fala,
Tem mais dono do que peixe.



Manoel Xudu ( A Lenda do Repente)



Os chamados, “ouvintes de cantoria”, que também são poetas, apesar de não fabricarem os versos, exercem, e como exercem, uma cumplicidade com os cantadores. Eles sabem das histórias dos poetas, declamam seus versos de pé-de-parede, passam pra frente além de ter um passado histórico de imortalizar os vates mais consagrados. Ainda tem um detalhe fundamental relacionado à categoria dos “ouvintes”: eles inspiram os cantadores no momento em que criam os motes já com uma dosagem forte de um poema. Quando Manoel Filó dá o mote: - Uma gota de pranto molha o riso/ Quando o preso recebe a liberdade. Ou então: - O espinho é o vigia/Da inocência da flor. Eis aí, uma possibilidade real do cantador se inspirar, para produzir “pérolas”.
Manoel Xudu Sobrinho foi um homem simples, generoso, eternamente, cavalheiro, incapaz de um ato ríspido, mesmo nas horas em que sua tranqüilidade corresse o risco de ser ameaçada. Nem por isso deixou de ser um poeta atormentado, de permeio, entre “o mundo e o nada”, o pranto e o riso. Natural da cidade de Pilar, na Paraíba, conterrâneo de José Lins do Rego e de João Lourenço, violeiro em plena atividade profissional.
“A obra de Xudu exige um conhecimento maior desse gênio do repente. Cada estrofe é um monumento de Arte, a expressar uma cascata de emoções que despenca em uma alma profundamente humanística”.
Xudu preenche as exigências da categoria, no que concerne, o cantador, o poeta, e o repentista. O cantador canta em qualquer estilo, atende ao mercado, espreita os acontecimentos diários. O poeta não se explica, graças a Deus! Tudo tende à emoção. É o Arquiteto dos sonhos e da metáfora. O repentista é simplesmente maravilhoso! É a marca registrada do repente. É quem pega o fato no ar, muitas vezes sem saber nem o que vai dizer. Ele pega de bote.
Xudu era tudo isso, dentro de uma simplicidade tamanha, ele abordava os temas mais profundos, com a maior presteza:
          A MULHER QUE EU CASEI
          ALÉM DE LINDA É BREJEIRA
          DAQUELAS QUE VAI À MISSA
          NO DOMINGO E TERÇA-FEIRA
          DAS QUE FAZ UMA SOMBRINHA
          COM UM PÉ DE CARRAPATEIRA.
A arte do improviso alimentava corpo e alma deste poeta, do “Pilar”. Bom tocador de viola, o que é um tanto raro dentre os repentistas. Ele e Severino Ferreira quando se deparavam, o “cancão piava”, no desafio só de viola. Gostava de uma “branquinha”. Meu Deus! Às vezes os próprios colegas o prendiam num quarto, até de motel, contanto que ele estivesse bom para o desafio noturno dos “Festivais”.
Xudu colocava a mulher em uma sextilha, onde ela era cúmplice dele, e ainda era quem dava a “chave”. Mas, isso não bonito?
          EU ESTAVA NA PRECISÃO
          QUANDO ME CASEI COM NITA
          NADA TINHA PRA LHE DAR
          DEI-LHE UM VESTIDO CHITA
          ELA OLHOU SORRINDO E DISSE
          OH! QUE FAZENDA BONITA!
Mas, por falar em mulher, nada melhor do que chamar Xudu. Claro, todos somos Freudianos:
          MAMÃE QUE ME DAVA PAPA
          ME DAVA PÃO E CONSOLO
          DAVA CAFÉ DAVA BOLO
          LEITE FERVIDO E GARAPA
          MAS UMA VEZ DEU-ME UM TAPA
          E DEPOIS SE ARREPENDEU
          BEIJOU AONDE BATEU
          DESMANCHOU A INCHAÇÃO
          “QUEM NÃO TEM MÃE TEM RAZÃO
          DE CHORAR O QUE PERDEU”.
E então? Veremos agora, o Xudu autobiográfico. Revelando uma trajetória de vida no sacrifício, na porrada. Particularmente, nunca tinha visto uma autobiografia, tão sincera, com todas as etapas da vida do poeta. Genial:
          DIA 13 DE MARÇO TERÇA-FEIRA
          ANO MIL NOVECENTOS TRINTA E DOIS
          POUCO TEMPO DEPOIS QUE O SOL SE PÔS
          MAMÃE DAVA GEMIDOS NA ESTEIRA
          NUMA CASA DE BARRO E DE MADEIRA
          MUITO HUMILDE COBERTA DE CAPIM
          EU NASCI PRA VIVER SOFRENDO ASSIM
          MINHA DOR VEM DOS TEMPOS DE MENINO
          VIVO TRISTE POR CAUSA DO DESTINO
          E A SAUDADE CORRENDO ATRÁS DE MIM.
Daqui vai um alerta para aqueles que conhecem outras versões de alguns versos que por acaso constem nesta matéria. É que, os próprios ouvintes de cantoria, os cantadores, os livros (e são muitos), têm versões diferentes, no que concerne às mudanças constantes nas linhas ou estrofes, ou até relacionados à autoria de um verso. Eu mesmo, já presenciei contradições de versos dentro da casa do próprio Lourival Batista, cuja autoria era atribuída a ele. Isso é literatura oral. Portanto, o mais importante, é que ao alterarem estrofes dos versos, nunca se fere o princípio básico do que o autor quis passar para os ouvintes. Na sextilha do poeta, João Paraibano: - Eu estava no sertão/ Balançando em minha rede/ Vendo o açude vazio/ Com dois rachões na parede/ E as abelhas no velório/ Da flor que morreu de sede. Pois bem, este açude, coitado! Nessas alturas, já vai com mais 100 rachões na parede...
Manoel Xudu tinha o olho biônico. Seus versos eram recheados de carinho, paixão, desde quando necessários. O mote que ele recebeu, foi o seguinte: Pode ir lá que está gravado/ O nome de Ana Maria:
          O NOME DA MINHA AMADA
          ESCREVI COM EMOÇÃO
          NA PALMA DA MINHA MÃO
          NO CABO DA MINHA ENXADA
          NO BATENTE DA CALÇADA
          E NO FUNDO DA BACIA
          NA CASCA DA MELANCIA
          MAIS GROSSA DO MEU ROÇADO
          “PODE IR LÁ QUE ESTÁ GRAVADO
          O NOME DE ANA MARIA.
E agora? Agora vamos terminar esse papo, com Manoel Xudu Kafkiano. Pôxa! E Xudu sabia o que era Surrealismo? Então, para os leitores mais engajados:
          A PRISÃO ONDE ESTAVAM OS CONDENADOS
          NA ANTIGA CIDADE DE BEZETA
          ERA TODA PINTADA À TINTA PRETA
          E TRANCADA POR FORTES CADEADOS
          GUARNECIDA POR TRINTA E DOIS SOLDADOS
          CADA UM COM DOIS METROS DE ALTURA
          E ALÉM DE SE LER A AMARGURA
          NO SEMBLANTE DAS MUDAS SENTINELAS
          QUEM OLHASSE PRAS GRADES DAS JANELAS
          TAVA VENDO O RETRATO DAS TORTURAS.